Estudante de Ciências Biológicas investiga microrganismos resistentes ao alumínio em solos do Cerrado
Projeto do PIBIC mostra que até nos solos hostis do Cerrado é possível encontrar aliados invisíveis para a ciência e para o futuro da agricultura
O Cerrado brasileiro, considerado um dos maiores reservatórios de biodiversidade do planeta, é também palco de grandes desafios ambientais. Entre eles, está a alta concentração de alumínio nos solos, um elemento químico que dificulta o crescimento das plantas e compromete a produtividade agrícola. No Câmpus Formosa do Instituto Federal de Goiás (IFG), uma pesquisa desenvolvida por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) buscou entender como microrganismos podem se adaptar a esse cenário e até contribuir para soluções sustentáveis.
A investigação, conduzida pela estudante Renata Eduarda Gonçalves Marques, sob orientação do professor Gustavo Antônio Teixeira Chaves e co-orientação do professor Fabiano Vieira de Paiva, teve como foco a prospecção de culturas microbianas resistentes ao alumínio a partir de amostras de solo de Cerrado strictu sensu, coletadas no município de Formosa (GO).
Renata Marques no Seminário Local de Iniciação Científica e Tecnológica (SICT 2024)
“O pH ácido é a principal condição para a presença de alumínio no solo do Cerrado”, explica o professor Gustavo Chaves. “Todos os solos já têm alumínio naturalmente, mas como o pH do solo do Cerrado é ácido, o alumínio se torna biodisponível – disponível para as plantas, para os organismos que estão naquele ambiente”, declarou o docente. O excesso de alumínio no solo é altamente tóxico para muitas espécies vegetais. A pesquisa procurou isolar microrganismos capazes de sobreviver a altas concentrações deste elemento, avaliando seu crescimento em meios de cultura preparados com diferentes níveis de sulfato de alumínio.
Após vários testes laboratoriais, a pesquisadora observou o crescimento de colônias microbianas mesmo em meios com altas concentrações de alumínio, especialmente nas faixas de 5mM a 50mM. Embora o isolamento de culturas puras ainda não tenha sido alcançado, o resultado aponta para a presença de fungos e bactérias adaptados ao ambiente desfavorável.
Esses microrganismos têm potencial para aplicações biotecnológicas, como a biorremediação (remediação biológica) de solos contaminados e a promoção do crescimento de plantas em ambientes ácidos, tema já investigado em culturas agrícolas como a do Camelia sinensis e do ginseng coreano.
A estudante explicou que “a biodiversidade vai muito além desta questão de fauna e flora”. “Microorganismos às vezes não são vistos por pessoas comuns, e eles auxiliam principalmente no processo de criações biotecnológicas e também funcionam como biorremediadores que auxiliam no processo de descontaminação de solos”, complementou.
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“Ciência é a busca por compreender coisas tão grandes quanto pequenas do nosso cotidiano, da nossa vida”, declarou a pesquisadora Renata Marques.
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Futuro Sustentável
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Cerrado ocupa cerca de 2 milhões de km² - 23,9 % - do território brasileiro, mas já perdeu mais de 50% de sua vegetação nativa devido ao avanço da agropecuária e da mineração. Em Goiás, a pressão sobre o bioma é intensa, o que torna urgente a busca por práticas agrícolas mais sustentáveis.
A ciência pode aliar preservação ambiental e inovação tecnológica e isso se comprova em estudos como o de Renata. “Essa pesquisa é importante porque o Cerrado brasileiro é um bioma com uma grande biodiversidade, tanto de animais quanto de plantas, e falar do solo dele enriquece ainda mais essa pesquisa”, justifica Renata Marques.
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“Pesquisar sobre ciência é ir atrás de entendimentos que, muitas vezes, não são proporcionados para a população”, pontuou a estudante de Ciências Biológicas.
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Protagonismo
Renata e seu orientador Gustavo Chaves, no SICT Local
Inspirada em Marie Curie, Renata Eduarda Gonçalves Marques iniciou sua trajetória de pesquisadora participando do PIBIC, no IFG. Para Renata, que cursa Licenciatura em Ciências Biológicas, a participação no PIBIC foi uma experiência transformadora. “Foi importante participar porque ele abriu portas principalmente para levar estes estudos a outros locais e ele deu a disponibilidade de a gente ter mais recursos aqui no IFG para desenvolver e elaborar essa pesquisa”.
O compromisso com a pesquisa é parte do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) do IFG, que estabelece como prioridade o fortalecimento do tripé ensino, pesquisa e extensão, estimulando o protagonismo estudantil e a formação crítica.
Tem Ciência no IFG!
O “Tem Ciência no IFG!” reforça esse movimento de mostrar à comunidade que a pesquisa científica feita no Câmpus Formosa tem impacto direto na vida das pessoas e possibilita novas experiências. A série foi pensada e executada pela Coordenação de Comunicação Social (CCS) e Gerência de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão (Gepex) do Câmpus Formosa e apresenta as pesquisas mais bem avaliadas no Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica (SICT) Local 2024.
--> Assista à entrevista sobre a pesquisa no canal IFG-Câmpus Formosa, no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=8mwPtYbcSH4
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Imagens: Banco de Imagens CCS
Coordenação de Comunicação Social/Câmpus Formosa
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