Agroecologia a favor da autonomia, da sustentabilidade na conservação das águas, dos solos e na formação de agricultores
Projetos voltados ao meio ambiente são desenvolvidos em diversos câmpus do IFG
Essa é uma semana especial para o meio ambiente. Instituições de ensino, entidades, comunidades e grupos em defesa da preservação do patrimônio ambiental realizam várias atividades em alusão ao dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho (hoje, dia 3, comemora-se o dia nacional da Educação Ambiental). No Instituto Federal de Goiás (IFG) várias são as iniciativas em prol da sustentabilidade, seja das águas, dos solos, das plantas, dos animais, com ações de ensino, pesquisa e extensão que atendem não apenas aos anseios e às funções institucionais, mas que também ensinam para a comunidade como realizar um trabalho sustentável, como produzir sem degradar, como economizar água, energia, dentre outros.
Nesta semana, o IFG vai produzir uma série de matérias sobre os projetos desenvolvidos na Instituição, como nos câmpus Goiânia, Goiânia Oeste, Aparecida, Formosa, Luziânia, Valparaíso, Inhumas, Itumbiara e Anápolis. É possível ainda acompanhar a programação das atividades da semana nos câmpus, por meio das páginas eletrônicas de cada unidade. A primeira e que merece destaque aborda as iniciativas da comunidade acadêmica do IFG – Câmpus Cidade de Goiás. Atualmente, são quatro frentes em andamento no câmpus: projetos na Escola de Agroecologia, de aproveitamento de resíduos de poda urbana, Papo Cozinha e o Núcleo de Estudos de Agroecologia e Ecossistemas.
Há três anos, o IFG é parceiro nas ações da Escola de Agroecologia, onde cerca de 200 famílias já foram atendidas pelas atividades desenvolvidas, segundo a professora e coordenadora do curso de Agroecologia do câmpus, Iara Pina. A Escola tem como foco a formação de agricultores em torno da produção agroecológica, com questões que englobam a produção que prevê a conservação do solo e das águas, “abordando um pouquinho sobre mudança do paradigma de produção. A ideia é trabalhar a produção agroecológica no âmbito animal e vegetal, para isso usamos uma série de técnicas para degradar cada vez menos e ir para um processo de conservação do solo e das águas e também o bioma Cerrado”, pontua a professora.
Segundo a professor, o trabalho com o Cerrado é feito na perspectiva de ele ser um aliado do agricultor, diferente da visão tradicional que o enxerga como um empecilho, “uma vez que o elemento arbóreo natural deixa de ser um empecilho e passa a ser um elemento potencializador”, afirma. Há estudos também de espécies do Cerrado que podem ser utilizados na alimentação animal (potencial forrageiro). A importância desse aspecto, pontua Iara, é em um cenário em que a atividade econômica principal é a bovinocultura, seja para leite ou gado de corte. A Escola atua ainda nas potencialidades do uso das espécies arbóreas do Cerrado, não só na produção animal, mas também na vegetal, onde a árvore é vista para a descompactação do solo, para drenagem, infiltração da água e a recarga dos cursos d’água, além de ser um potencial na alimentação humana ou animal.
Para além das ações desenvolvidas, a coordenadora destaca que são realizadas ainda visitas nos assentamentos da reforma agrária e articulação com outras instituições, que têm se configurado como um movimento agroecológico e uma série de questões atreladas a esse movimento. Uma das ações citadas pela professora é a cesta camponesa, cuja ideia é que os agricultores vendam diretamente para os consumidores. Outras iniciativas são realizadas, afirma Iara: “Já trabalhamos dentro desse contexto da Escola de Agroecologia a proteção de nascentes com plantio de mudas, oficinas de produção de mudas nativas do Cerrado, oficinas para fazer insumos alternativos e reduzir o uso de agrotóxicos e outros”, conta.
Os desdobramentos dessas atividades são o que realmente justificam os projetos e o atendimento às comunidades, pois o “grande movimento”, como chamou Iara, é também reduzir o uso de agrotóxicos de insumos sintetizados, que têm tanto um alto custo para o agricultor quanto para o meio ambiente. “Os insumos hidrogenados, que são os principais insumos em termos de fertilização do solo, demandam uma grande quantidade de combustíveis fósseis e a ideia é que a gente reduza o uso de agrotóxicos e insumos sintetizados e passe a usar aquilo que o agricultor tem na propriedade. Então, é fazer uma calda de barbatimão, de alho, de arruda, é utilizar os estercos, isso diminui o custo de produção e conserva o meio ambiente”, finaliza.
Outras entidades são parceiras na iniciativa: o Núcleo de Agroecologia da Universidade Estadual de Goiás (UEG), o Gwata, a Escola Família Agrícola, da cidade de Goiás, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Diocese da cidade. Atualmente, o projeto está configurado como projeto de extensão, mas começou como Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores (FIC), e faz também uma articulação independente com os produtores da região.
Outros projetos desenvolvidos
- Núcleo de Estudos e Pesquisa em Agroecologia e Agroecossistemas (NEPAA)
Outra importante ação no Câmpus é o Núcleo de Agroecologia e Ecossistemas, que possui uma série de frentes de trabalho que lidam com a conservação do meio ambiente. Uma das ações gira em torno das questões de alimentação e dialoga com o projeto Papo de Cozinha (ler abaixo). Outra frente é a de produção animal, que está relacionada à pesquisa da Escola de Agroecologia sobre o uso de espécies nativas do Cerrado com potencial forrageiro. E uma terceira frente de articulação com a Escola é a organização de eventos, como a Caravana Agroecológica do Centro-oeste. Nesse Núcleo são realizados estudos que envolvem estudantes do curso técnico integrado em Agroecologia e Agronomia do IFG. São desenvolvidas pesquisas agregando os projetos realizados no câmpus sobre alimentação saudável e produção animal sustentável.
Para o estudante Jason Carvalho, ex-aluno do curso técnico em Agroecologia e atualmente estudante de Agronomia, os projetos desenvolvem a autonomia dos participantes. "Eu gosto de participar dos projetos de agroecologia porque dá muita autonomia para os estudantes e para os agricultores. Eu morei, e meus pais ainda moram no assentamento, eu morei a vida inteira, só saí de lá para vir fazer o curso de Agroecologia no IFG. Participar dos projetos me fez ter uma visão muito maior sobre a nossa realidade, entender a questão da falta de acesso às políticas públicas e da assistência técnica, e também pensar nas possibilidades de fortalecimento da juventude do campo, para que nós tenhamos condições de continuar no campo”, conta. Jason afirma que muitos que moram no campo não têm pretensões de sair e ir para os centros urbanos, mas que são estimulados a ir para a cidade e pensar em outras profissões “por causa do preconceito e da desvalorização do campo. Essa participação me permitiu trazer uma nova visão sobre a minha realidade, sobre o meu assentamento e tentar mudar um pouco essa falta de perspectiva”, finaliza.
- Projeto uso da poda urbana
Realizado no contexto do câmpus, é desenvolvido pelo servidor e tecnólogo em Agroecologia, Carlos de Melo. Ele atua com o uso de resíduos da poda urbana, recolhendo toda poda de árvore e arbustos da cidade, que antes eram depositadas em algum local e não tinham utilidade. Em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, o servidor faz o reuso dessa poda. O material é triturado e levado ao Câmpus Cidade de Goiás para ser utilizado na elaboração de composto e cobertura para o solo. A professora Iara ressalta que esse composto é usado no câmpus, nas produções dos estudantes, mas há uma ação de extensão em andamento há seis meses. Com isso, a ideia é que as famílias de agricultores que fazem parte da Escola de Agroecologia usem esse composto.
- Projeto Papo de Cozinha
É feito ainda um trabalho com resgate e fabricação de receitas com frutos do Cerrado. O foco são os doces e as compotas, que já são tradição na cidade pela qualidade e pelo sabor. Há também inovação em algumas receitas, como um pão de queijo com pequi, “que é delicioso, tem uma pasta feita com cagaita que também é muito deliciosa”, conta Iara. São alimentos e receitas que carregam um valor histórico, que para além dos sabores, trazem lembranças, pois eram feitas antigamente e foram se perdendo com o tempo. O processo é de inovação, mas também de valorização dos frutos e do bioma Cerrado como um todo. O projeto Papo de Cozinha foi idealizado como um projeto FIC, atende cerca de 50 pessoas da comunidade externa, é coordenado pelo professor do Câmpus Cidade de Goiás, Diogo de Souza.
Leia mais notícias dos projetos:
Diretoria de Comunicação Social - Reitoria/ Coordenação de Comunicação Social – Câmpus Cidade de Goiás.
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